Muitas pessoas que acham que têm alergia a trigo, na verdade, têm doença celíaca ou SNCG (Sensibilidade Não Celíaca ao Glúten). Os sintomas gastrointestinais de todos esses três distúrbios podem parecer semelhantes, e o fato de que todos parecem ser causados pelo trigo pode dificultar o diagnóstico. No entanto, os três são distintos:
Incidência e fatores de risco
Estima-se que 1 em cada grupo de 100 a 200 pessoas nos EUA e na Europa tenha a doença celíaca. De acordo com uma pesquisa publicada pela UNIFESP em 2005, o resultado apresentou incidência de 1 paciente celíaco para cada grupo de 214 moradores de São Paulo.
As pessoas com maior risco de ter a doença celíaca são aquelas que têm diabetes do tipo 1, doença autoimune da tiróide, síndrome de Turner, síndrome de Williams, ou parentes com a doença celíaca. Você pode ter a doença celíaca mesmo sem fazer parte de um dos grupos de maior risco.
Definição
A doença celíaca é uma condição crônica que afeta principalmente o intestino delgado. É uma intolerância permanente ao glúten, uma proteína encontrada no trigo, centeio, cevada, aveia e malte. Nos indivíduos afetados, a ingestão de glúten causa danos às pequenas protrusões, ou vilos, que revestem a parede interna do intestino delgado. Esta condição possui outros nomes, tais como espru celíaco e enteropatia glúten-sensível.
A doença celíaca é considerada uma desordem autoimune, na qual o organismo ataca a si mesmo. Os sintomas podem surgir em qualquer idade após o glúten ser introduzido na dieta.
Sintomas
Os sintomas intestinais incluem diarréia crônica ou constipação (prisão de ventre), inchaço e flatulência, irritabilidade e pouco ganho de peso. Os pacientes podem apresentar atraso de crescimento e da puberdade, anemia da carência de ferro (ferropriva), osteopenia ou osteoporose, exames anormais de fígado, e uma erupção na pele com prurido chamada dermatite herpetiforme. A doença celíaca também pode não apresentar qualquer sintoma.
Diagnóstico
A doença celíaca pode levar anos para ser diagnosticada. Os exames de sangue são muito utilizados na detecção da doença celíaca. Os exames do anticorpo anti-transglutaminase e do anticorpo anti-endomísio são altamente precisos e confiáveis, mas insuficientes para um diagnóstico. A doença celíaca deve ser confirmada encontrando-se certas mudanças nos vilos que revestem a parede do intestino delgado (através de uma avaliação anátomo-patológica). Para ver essas mudanças, uma amostra de tecido do intestino delgado (duodeno) é colhida através de um procedimento chamado endoscopia digestiva alta com biópsias.
Tratamento
O tratamento consiste em evitar, por toda a vida, alimentos que contenham glúten (tais como pães, cereais, bolos, pizzas, dentre outros), aditivos (que contenham trigo, centeio, aveia e cevada) e medicamentos que possam conter glúten na sua formulação. Assim que ele é removido da dieta, consegue-se um controle desta patologia. Apesar da dieta parecer extremamente difícil a princípio, o acompanhamento com um bom nutricionista e grupos de apoio são essenciais.
Por outro lado, há uma variedade de alimentos saudáveis permitidos que podem fazer parte da dieta de um celíaco:
- CEREAIS: arroz, milho, painço e os pseudocereais quinoa, amaranto, trigo sarraceno.
- FARINHAS e FÉCULAS: farinha de arroz, amido de milho (tipo “maisena”), fubá, farinha de mandioca, fécula de batata, farinha de soja, polvilho, araruta, flocos de arroz e milho.
- MASSAS: feitas com as farinhas permitidas.
- VERDURAS, FRUTAS E LEGUMES: todos, crus ou cozidos.
- LATICÍNIOS: leite, manteiga, queijos e derivados (se não houver intolerância à lactose).
- GORDURAS: óleos e azeites.
- CARNES: bovina, suína, frango, peixes, ovos e frutos do mar.
- GRÃOS: feijão, lentilha, ervilha, grão de bico, soja.
- SEMENTES OLEAGINOSAS: nozes, amêndoas, amendoim, castanhas da Amazônia e caju, avelãs, macadâmias, linhaça, gergelim, abóbora, etc
Os pacientes podem começar a apresentar melhora uma ou duas semanas após o início da dieta. Na maioria das pessoas, os sintomas desaparecem e a parede do intestino se recupera totalmente de 6 a 12 meses após o início da dieta sem glúten. Nas crianças, o crescimento volta ao normal. Visitas regulares a um nutricionista e a uma equipe de profissionais de saúde com experiência no tratamento da doença celíaca são importantes para ajudar a manter a dieta e monitorar possíveis complicações. Apesar de algumas pessoas serem capazes de voltar a consumir glúten sem sintomas imediatos, elas não “superaram” a doença celíaca, e não estão “curadas”. A dieta sem glúten deve ser seguida por toda a vida.