O que é?
A intolerância à frutose é uma síndrome que ocorre quando as células da superfície interna do nosso intestino são incapazes de absorver propriamente a frutose que ingerimos. Isso desencadeia, em vários níveis, uma série de sinais e sintomas relacionados à má absorção do alimento, como constipação (“prisão de ventre”), gases, diarreia e sintomas extraintestinais, como fadiga e fraqueza.
A frutose é um açúcar, ou carboidrato, do tipo monossacarídeo, que compõe o açúcar de mesa, o mel e o agave. Ela está presente também em frutas e em alguns vegetais e é adicionada a muitos alimentos processados, como biscoitos ou até mesmo pão.
Com o aumento acentuado no consumo de alimentos industrializados com açúcar, adicionado nos últimos anos, a incidência de intolerância à frutose vem aumentando cada vez mais. Estima-se que essa síndrome pode afetar 1 em cada 4 indivíduos.
*Obs.: existe um outro tipo de intolerância à frutose, ao qual não nos referimos neste artigo, que é a intolerância à frutose hereditária. Ela atinge 1 em cada 20.000 a 30.000 indivíduos e requer uma dieta absolutamente sem frutose.
Como ocorre?
Um indivíduo intolerante à frutose terá dificuldade de absorver, no geral, uma quantidade tão pequena quanto 20g de frutose, menos do que o contido em uma lata de refrigerante. Isso ocorre por uma falha no transporte de frutose feito pelas células do intestino.
Uma vez não absorvida, essa frutose se acumula na luz intestinal e é fermentada pelas bactérias que habitam nosso intestino, gerando sintomas de gases, dor abdominal e diarreia.
Além disso, essa frutose livre na luz intestinal se prende a moléculas de triptofano, aminoácido precursor de serotonina, atrapalhando significativamente na produção de serotonina pelo intestino. Por esse motivo, existe uma forte associação entre a má absorção de frutose e depressão.
Vale ressaltar que alguns alimentos pioram ainda mais a absorção de frutose, como o sorbitol, contido em algumas frutas, refrigerantes e alguns alimentos processados.
Causas
Como dito anteriormente, a frutose é mal absorvida por conta de uma falha nas células do intestino, mais especificamente por uma deficiência nos transportadores de frutose dessas células, os enterócitos. Alguns dos fatores que podem causar ou desencadear essa má absorção são:
- Inflamação;
- Condições pré-existentes, como síndrome do intestino irritável;
- Consumo de alimentos processados ou até mesmo de frutas em excesso;
- Desregulação da flora intestinal.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco que predispõem ao desenvolvimento de intolerância à frutose incluem desordens de origem gastrointestinal, como:
- Doença de Crohn;
- Doença Celíaca;
- Síndrome do Intestino Irritável;
- Colite;
- Supercrescimento bacteriano do intestino delgado.
Sinais e sintomas
Após a ingestão de alimentos que contêm frutose, os indivíduos que apresentam um quadro de intolerância podem desenvolver sinais e sintomas decorrentes da má absorção desse monossacarídeo no intestino delgado. As manifestações clínicas mais comuns incluem: distensão abdominal, náuseas, vômitos, flatulência (gases), dor abdominal, empachamento (sensação de estômago cheio), borborigmos (líquidos ou gases que se deslocam no intestino, causando barulho), fadiga crônica e, eventualmente, episódios de refluxo gastroesofágico.
Ademais, estudos evidenciam uma relação existente entre a intolerância à frutose e distúrbios de humor. Foi demonstrado que a má absorção da frutose está associada à redução dos níveis plasmáticos de triptofano (importante precursor da serotonina), favorecendo o desenvolvimento de desordens depressivas. Nesse sentido, uma vez retirada a frutose da dieta, as manifestações psiquiátricas podem melhorar após 4 semanas.
Diagnóstico
Para a confirmação diagnóstica da intolerância à frutose, é necessário que haja sintomas típicos e que o Teste Respiratório do Hidrogênio Expirado seja positivo. Por outro lado, para a confirmação de má absorção de frutose, basta o teste ser positivo, não havendo necessidade da apresentação de sintomas pelo paciente.
Esse teste envolve a ingestão de uma solução concentrada de frutose, de maneira que a cada 20 ou 30 minutos, durante algumas horas, o ar expirado pelo paciente é avaliado, com o objetivo de medir a quantidade de gás Hidrogênio (H2). Quando há uma grande concentração de H2 na amostra expirada, pode-se dizer que está ocorrendo uma má absorção da frutose. Esse processo pode ser explicado através da ação de bactérias anaeróbias intestinais que metabolizam a frutose má absorvida no intestino, gerando como produtos finais a formação de ácidos graxos, CO2 e H2, que são detectados no ar expirado pelo paciente.
Tratamento
Como uma primeira abordagem para o manejo adequado da intolerância à frutose, é interessante moderar o consumo de alimentos que contenham alta concentração do monossacarídeo. Entre eles, os principais são:
- Sucos de frutas;
- Mel;
- Refrigerantes;
- Doces em geral;
- Biscoitos;
- Certas frutas, como: ameixa, pera, cereja, pêssego, maçã e melancia;
- Açúcar de mesa.
Além disso, uma dieta baixa em FODMAPs pode ser uma outra estratégia útil no tratamento da intolerância. FODMAPs são tipos de carboidratos encontrados em alguns alimentos, inclusive os previamente citados na lista, que podem contribuir no desenvolvimento de sinais e sintomas de má absorção.
Nesse sentido, alguns dos alimentos com baixo teor de FODMAPs e que podem auxiliar no manejo adequado dos sintomas de intolerância à frutose incluem:
- Frutas com menor concentração de frutose, como: banana, uvas, mirtilos, laranja, maracujá e kiwi;
- Carnes, peixes e ovos;
- Alguns grãos, como: aveia, quinoa e milho;
- Verduras e legumes em geral;
- Nozes e sementes, como: castanha de caju, amêndoas, amendoim e nozes macadâmia.